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Partido

MADEIRA:

O Pico do Areeiro Oito Anos Depois… 

                                                                                                                                 Arnaldo Matos              

Faço parte, na simples qualidade de voluntário, da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal, organização não governamental fundada e dirigida pelo meu ilustre amigo Professor Doutor Raimundo Quintal, investigador do Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, geógrafo e botânico de extraordinária cultura e de excepcionais capacidades.

Desde 2002 que a nossa Associação se tem dedicado a recuperar a cobertura botânica e a biodiversidade florística de uma área do maciço montanhoso central da Madeira, em redor do Pico do Areeiro e do Cabeço da Lenha, este já constituído para todos os efeitos em Campo de Educação Ambiental.

Estou já a ficar sem forças para trepar àquelas alturas por caminhos tão sinuosos, plantar desde as ervas mais humildes às árvores mais soberbas, tudo para manter a cobertura botânica autóctone na sua imensa variedade em regiões de tão difícil acesso como de complicada natureza.

 Como tenho de me deslocar de Lisboa, onde resido, para a Madeira, onde reclamam o meu trabalho de semeador, cada erva ou cada proto-árvore que planto acaba sempre sendo a mais cara de todas as que ali são plantadas. E até talvez não seja a mais cara, pois agora vejo que cava ao meu lado um casal de austríacos que ama tanto a nossa terra como a terra deles.

1Sucede que na noite de 13 para 14 de Agosto do ano de 2010, ateado por um criminoso sem escrúpulos nas profundidades da Ribeira da Lapa, o fogo queimou toda a vegetação na vertente entre o posto meteorológico do Areeiro e a Estrada   de acesso ao terceiro Pico mais alto da Ilha da Madeira, justamente o Pico do Areeiro nos seus 1818 metros de altura. 

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Captadas, como confessa o meu amigo Raimundo Quintal, num dos dias mais tristes de toda a sua vida, (14.08.2010), as três fotografias a seguir reproduzidas recordam e de algum modo comprovam como ficou destruída e calcinada a área do incêndio naquela data.

3Os voluntários da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal rangeram de raiva os dentes, calçaram botas e arregaçaram mangas e, munidos de baldes, enxadas e sacholas avançaram   para os terrenos calcinados . E começaram a cumprir com dedicação e denodo, aquela complicada tarefa, a que o poeta Teixeira de Pascoais uma vez aludiu quando tinha em vista a florestação do seu Marão (Marânus), vítima de um incêndio florestal total: a tarefa de plantar cabelos à sovela na cabeça de um careca.

4Ano após ano, mês após mês, em todas as estações, quando chovia, caia neve, ventava ou escaldava o sol, foram-se espalhando as sementes, as plantas nasceram, as cores floriram e a vida regressou para substituir a imagem da morte.

5Segundo as três fotografias ao lado, obtidas pelo Doutor Raimundo Quintal, já as cores da vida suplantaram o negrume do criminoso incêndio e as plantas regressaram a casa, graças à resistência da natureza e à determinação dos Amigos do Parque Ecológico. Os Massarocos, as uveiras -da –serra, as urzes, as andríalas e muitas outras pequenas plantas regressaram ao maciço montanhoso central de onde tinham sido escorraçadas há muitos e longos anos. 

Para mim, e desculpem a imodéstia, essas são as flores mais caras e mais belas que ajudei a oferecer na minha vida.

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09JUL18                                                                                                            

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