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Partido

Morreu António Russo Dias

Morreu ontem em Lisboa, aos 74 anos de idade, o embaixador português jubilado António Russo Dias, natural de Porto Amélia, actual cidade de Pemba, em Moçambique.

Dias foi meu companheiro na Faculdade de Direito de Lisboa, onde nos licenciámos nos anos sessenta. Foi um corajoso estudante marxista, comunista, revolucionário, proveniente da tertúlia cultural do café Vavá, companheiro de armas do camarada Ribeiro Santos e de muitos outros estudantes que fizeram a vida negra ao fascismo salazarista e marcelista.

Dias fez parte dos órgãos dirigentes da Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, da qual fui Presidente, mas a nossa eleição nunca foi homologada pelo ministro da educação da época, o fascista José Hermano Saraiva.

António Russo Dias foi um brilhante actor de teatro e um dedicado director do Grupo Cénico da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, o primeiro grupo de teatro universitário português, e conseguiu trazer comigo e outros membros da direcção académica e o apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, o notável encenador argentino Adolfo Gutkin, o que elevou o grupo cénico da Faculdade de Direito à categoria de um dos mais extraordinários grupos de teatro universitários da Europa.

Voltámo-nos a encontrar os três há três anos no Teatro a Barraca, em Santos, com o Hélder Costa, ele aliás, como também Lindley Cintra, membro do Cénico de Direito

Dias foi ainda militante clandestino do MRPP e era também membro da Federação de Estudantes Marxistas Leninistas (FEM-L), na ocasião em que a Pide assassinou o camarada Ribeiro Santos, numa reunião em Económicas.

Depois do 25 de Abril, Russo Dias continuou por muito tempo como militante comunista do PCTP/MRPP, e foi meu Secretário para a Imprensa durante mais de um ano, após o Congresso da fundação do Partido e no seguimento da minha prisão, em 1975.

Russo Dias seguiu depois a carreira diplomática e jubilou-se como embaixador. Enquanto diplomata português, António Dias esteve no Iraque, em França, no Brasil, no Conselho da Europa, em Estrasburgo, e foi o fundador da primeira embaixada portuguesa na ilha de Malta. Esteve na Guiné-Bissau durante o conflito militar de 1998/99 e, depois, na Sérvia e na Macedónia.

Russo Dias foi um combatente político comunista de coragem inexcedível. E foi, na segunda fase da sua vida, um notável diplomata e embaixador de Portugal no Mundo.

Teve - e tem- uma filha e um filho, a quem endereço os meus sentidos pêsames e a minha comovida solidariedade.

Até sempre, camarada!

19JAN18

Arnaldo Matos


 

 

 

 

 

 


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