PAÍS

A luta dos estudantes universitários tem de se fundir com a luta de operários e trabalhadores!

Convocada pela Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (AEFCSH) – que já havia encabeçado outro protesto em frente à sua Faculdade há cerca de duas semanas – e apoiada pelas Associação de Estudantes da Faculdade de Letras (AEFLUL), Associação Académica da Universidade de Lisboa (AAUL) e Associação da Faculdade de Direito de Lisboa (AAFDL), realizou-se na passada 4ª feira, dia 18 de Novembro, uma concentração de estudantes universitários frente à Assembleia da República.

Segundo um comunicado emitido pelos promotores desta concentração, “Enquanto estudantes, unimo-nos para afirmar que não seremos complacentes face à aprovação de mais um Orçamento do Estado que não apresente soluções de fundo para problemas estruturais e pouco ou nada faz face às questões prementes colocadas pela pandemia”.

Esta concentração teve lugar no preciso momento em que na estrebaria de S. Bento os deputados discutiam a Lei Geral do Orçamento de Estado para 2021, um instrumento para a burguesia e o seu governo de lacaios prosseguir e agravar, no ano que vem, a exploração da classe operária e dos trabalhadores, bem como dos estudantes universitários e suas famílias.

Para além do fim das propinas, exigem melhores condições para o ensino, alojamento que acomode os estudantes que vivem fora dos centros urbanos em que os seus centros universitários se encontram, a um custo correspondente aos rendimentos do seu agregado familiar, cantinas que sirvam refeições de qualidade e a baixo preço, livros, manuais e todo o suporte necessário a um ensino de qualidade gratuito.

Uma das queixas mais recorrentes que se ouvia durante a manifestação era a de que as condições que são dadas aos estudantes universitários não são, de todo, aquelas que precisam para não estarem sujeitos a situações humilhantes, de autêntica mendicidade pelo direito mais básico ao ensino e às condições materiais, dignas, para o exercer.

Os estudantes do ensino superior presentes continuam a denunciar que o ensino não tem sido democrático e inclusivo, porque a insuficiência de apoios sociais e as propinas sufocam por completo, do ponto de vista financeiro, as economias das suas famílias. Indignados gritaram, a plenos pulmões, a sua revolta, bem patente numa das palavras mais gritadas durante a manifestação: “Propinas e Bolonha, é tudo uma vergonha”.

Estes jovens estudantes universitários indignam-se quando comparam a atitude do Estado que, para abrir os cordões à bolsa para investir no ensino superior – ou no ensino em geral – tudo tem de ser arrancado a ferros, enquanto para a banca corrupta e parasitária, verte milhares de milhões de euros roubados ao trabalho que os operários e trabalhadores – muitos deles seus progenitores – penosamente realizaram.

Para além do mais, muitos dos edifícios que albergam estabelecimentos de educação universitária, como é o caso – entre muitos outros – da FLUL, registam problemas enormes de infraestrutura, a cair aos bocados e sem condições para que neles se possa exercer um ensino científico, de qualidade, superior, para além da manifesta falta de trabalhadores para os serviços académicos que possam responder às necessidades dos estudantes. Problemas que ainda se agravaram mais com a histeria, a política de medo e as medidas terroristas que o governo implementou no quadro da alegada pandemia de Covid-19.

Alegando a necessidade de encerrar salas no âmbito das medidas de contenção da Covid-19, foi denunciado pelos estudantes presentes que existe cada vez menos espaços para estudar nas instituições e o número de camas nas residências universitárias também se ressentiu, com uma queda dramática do seu número.

O ensino está “com a corda no pescoço” denunciava José Pinho, membro da direcção da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (AEFCSH) da Universidade Nova de Lisboa, uma das associações que organizou o protesto.

João Carvalho, igualmente membro daquela Associação, foi muito crítico do Orçamento de Estado para 2021 ao denunciar que este “não continua o caminho que foi traçado com a redução das propinas nos anos lectivos anteriores, continua a não colocar um tecto máximo nas propinas de mestrado e de doutoramento, escolhe não investir no ensino superior, que é um sector fundamental, e em vez disso desviar o dinheiro para outras prioridades”.

A luta do sector universitário assume enorme importância no quadro mais geral da luta da classe operária, em particular, e dos trabalhadores em geral, de luta contra a exploração, o desemprego, a miséria e a precariedade. Condições que esperam estes estudantes quando saírem, como licenciados – ou não – das suas faculdades.

Uma luta que tem de sair de dentro dos muros das escolas e juntar-se ao caudal da luta operária e popular. Não é possível conquistar seja o que for sem que os estudantes compreendam que a condição para a qual estão a ser atirados resulta do mesmo sistema político e económico que oprime e explora os operários e os trabalhadores – o sistema capitalista e o seu modo de produção.

20Nov2020

LJ

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