Entrevista a um trabalhador da Eurest.
Benjamin - Como classifica o domínio da Eurest em Portugal?
Trabalhador - a Eurest domina o sector da restauração colectiva, fábricas, empresas e cantinas escolares; são detentores do contrato com a Câmara Municipal do Porto e com as escolas. São os tubarões deste sector! Têm apoios do Estado e socialmente não contribuem com nada! Este despedimento não tem motivo legal!
B - Como explica esta situação do despedimento colectivo? Os desenvolvimentos que foram surgindo.
T - A empresa aproveita-se daquilo que o sistema tolera e impele, em defesa do patrão, do capitalista. Por exemplo, pessoas que chegam à empresa do centro de emprego, a empresa não paga a parte deles da segurança social, inclusive tenho colegas nessa situação e neste momento não se sabe nada deles, pois os precários começaram a saltar de um lado para o outro e não sabemos onde andarão. Entretanto chegámos a princípio de Março, início da pandemia, começámos a sentir o refeitório mais vazio. Os trabalhadores da indústria, de uma maneira geral, fizeram pressão para que houvesse confinamento e para que as pessoas recolhessem, e nós fomos sentindo que o número de refeições estava a diminuir gradualmente, e a Eurest também prontamente se preparou para tentar esgotar de uma forma completamente ilegal as férias às pessoas, não as podia obrigar a fazer férias até Maio compulsivamente, e assim foram pressionando as pessoas. Algumas aceitaram, outras não. E foram também percebendo outras necessidades noutras cantinas que não abrandaram como é o caso do Instituto Português de Oncologia, que também é deles e foram abrandando e deslocando as pessoas. Declararam lay-off a 27 de Março, com início a 1 de Abril, e a partir dessa altura as unidades estiveram muito reduzidas em termos de força laboral. Unidades como a nossa, que para aquelas refeições deviam ter cinco ou seis pessoas, estiveram a trabalhar com duas ou três pessoas, os empregados mais baratos, as pessoas que estão no início de carreira, e puseram a gente quatro meses em casa. Depois em Agosto acabaram de esgotar as férias e deixaram as pessoas trabalhar dois meses e avançaram com este despedimento colectivo. No meio desta situação admitiram às escolas com vínculos precários mais de 200 pessoas, só para o contrato com a Câmara Municipal do Porto. Foi uma forma de descartar as pessoas. No caso da minha unidade foram os indesejáveis ou os que ganham mais.
B - Como foi a abordagem do director no que respeita ao aviso do despedimento?
T - No meu caso eu recebi uma carta, a dizer que estava dispensado do ponto, da assiduidade, e a dizer que ia iniciar um processo de despedimento colectivo. Uma carta registada, sem que o director abrisse a boca, tomando a decisão de quem queria despachar sem qualquer aviso prévio. Com outros colegas de trabalho de outra unidade, com outro director, o director deu-se ao gozo de entregar as cartas pessoalmente a quem queria despachar, assediando assim as pessoas. Avisaram o sindicato mas não avisaram os delegados sindicais.
B - O sindicato tem feito um acompanhamento de todo o processo?
T - Sim. Aconteceu um episódio interessante. Na sequência de uma visita à Efacec, na Maia, para realizar um plenário com os trabalhadores dessa cantina, no horário da pausa de almoço, impediram de entrar um dirigente sindical, alegadamente por instruções da Eurest e cobertura da Efacec, e isso acabou por surtir um efeito adverso: os trabalhadores, face à proibição de entrada, dirigiram-se à rede de vedação da fábrica, e nesse momento tiraram as suas dúvidas sobre o processo de que estão a ser vítimas e elegeram um delegado sindical para os representar no processo. Quem quiser recolher uma indemnização, o jurista presta esse serviço, e se estiverem dispostas para lutar e realizar manifestações, o sindicato também apoia. Relembro que a decisão das duas empresas é ilegal, o direito à actividade sindical no interior da empresa é um direito fundamental dos trabalhadores, garantido pela Constituição da República Portuguesa e pela Lei. Agora, é aguardada uma reunião do sindicato com a administração da empresa.
B - Em última análise, como estão as condições actualmente? E qual a sua opinião em relação a esta decisão da Eurest?
T - A Eurest tem reprimido as pessoas das mais variadas formas. Neste momento as refeições são menos, as pessoas são menos, mas o serviço é muito mais. Com as desinfecções e todos os procedimentos do covid, o trabalho em vez de diminuir, aumentou, entre as onze da manhã e as duas da tarde é diabólico, são muitos procedimentos! Quando esta crise começou, não interessava muito quem a tinha despoletado. Se os chineses ou os americanos, interessava era saber quem iria ganhar com isto. E a Eurest vai tentar aniquilar completamente as empresas da concorrência.
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