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PAÍS

Costa & Costa preparam terreno para que sejam os operários e os trabalhadores a pagar a “reconfiguração” do sistema capitalista

A história da adesão de Portugal à CEE, da sua manutenção na União Europeia, da sua integração no espaço euro e dos vários tratados e acordos que a burguesia portuguesa convencionou com os donos disto tudo – ou seja, o imperialismo germânico e os seus aliados – tem assentado sempre no mesmo pressuposto. Isto é, todos eles são discutidos nas costas do povo, sem o seu conhecimento, discussão prévia ou acordo, ditados por interesses terceiros que nada têm a ver com os exigidos pela classe operária e pelos trabalhadores em Portugal.

Mais, quando forçados a divulgar pelo menos parte das confabulações em que se envolvem, os lacaios da burguesia que têm estado no poder – invariavelmente o PS e o PSD, a sós ou coligados, com praticamente todos os partidos do “arco parlamentar” –, nem a ponta do véu desvendam, limitando-se a vomitar promessas e a dourar a pílula da subjugação aos interesses imperialistas que conformam tais acordos e tratados.

O espectáculo da “Cimeira” da UE onde se discutiu o montante do “bolo” a atribuir a um programa de “recuperação” da economia “pós-covid” foi, a todos os títulos, confrangedor e humilhante. Sobretudo com o “show” de bajulice política dado pelo 1º Ministro de Portugal, António Costa, e pelos chamados países do sul da Europa que aceitaram as imposições dos chamados países “frugais” – com a Holanda à cabeça.

Países que, depois de terem imposto a condição de “criado de libré” aos trabalhadores portugueses, atribuindo-lhes maioritariamente um papel de mero operador terciário na divisão de trabalho europeu que desenharam para melhor servir os seus interesses, apresentam o plano de “recuperação” económica europeia, pós-Covid, como uma espécie de “bodo aos pobres”.

Escamoteando, por um lado, que esses montantes saem de um orçamento alimentado pelas contribuições de todos os estados membros da UE e do euro e, por outro, que os chamados estados “frugais”, conseguem uma maior acumulação de capital, graças a mecanimos corruptos de captação de impostos de empresas que escolhem os seus territórios para obter maiores benefícios fiscais – o Pingo Doce é disso um exemplo paradigmático.

Escamoteando que para que a divisão internacional de trabalho, a nível europeu, tivesse o sucesso desejado para servir os seus interesses, a burguesia portuguesa capitulou, meteu o joelho na terra, e dispôs-se a destruir todo o seu tecido produtivo, desde a indústria pesada à indústria ligeira, passando pela agricultura e pelas pescas, abrindo mão de recursos e activos importantíssimos como o mar, entre muitos outros, e dispondo-se a privatizar tudo o que pudesse proporcionar lucro ao grande capital financeiro, bancário e industrial.

Da Cimeira da UE sai um plano que estima a distribuição de 750 mil milhões de euros para a “recuperação económica” europeia, pós-Covid, que uns consideram ser uma “bazuca” e outros identificam como uma reles fisga. Dessa verba, sairão cerca de 45 mil milhões de euros para Portugal, parte a “fundo perdido” e parte com financiamentos com juros mais “atractivos”. Porém, não podemos deixar de assinalar que o plano prevê cortes no financiamento de sectores tão importantes para a economia portuguesa, como são a agricultura e as pescas.

Agora que a humilhação foi consumada, aparecem os Costas a “dourar” a pílula. Enquanto o Costa 1º Ministro se encarrega de cantar loas às verbas que Portugal terá recebido – quer a “fundo perdido”, quer num plano de empréstimos com juros “muito favoráveis” –, o Costa conselheiro apresenta um “Plano de Recuperação” mais detalhado, afirmando, por um lado, que Portugal pode ter futuro, ao mesmo tempo que torna mais negro o quadro em que tal “recuperação” irá ter lugar. Uma espécie de “uma no cravo, outra na ferradura”.

Apesar de considerarmos que este Plano será mais um daqueles que nunca sairá do papel, como todos os outros, será de destacar que é o próprio conselheiro Costa (uma espécie de Conselheiro Acácio queirosiano dos tempos actuais) a indicar porque é que o Plano não irá ser executado. Desde a impossibilidade de ele ser implementado por falta de “consenso político” – novamente a famigerada “União Nacional” –, até considerar que a crise é “inédita” e até “muito violenta”, podendo virmos a assistir à queda “em cascata” de muitas das empresas, o terreno está desde já a ser preparado para antecipar mais um desaire.

Porém, o principal alerta deixado pelo Conselheiro Costa é o de que, afinal, os dados da crise são ainda mais gravosos do que aqueles que, ainda recentemente, o Costa 1º Ministro revelava. Isto é, afinal a queda do PIB pode chegar aos 12% – quando o 1º Ministro afirmava peremptoriamente que nunca chegaria aos dois dígitos (lembram-se?) –, o desemprego chegará aos 11,5% (números oficiais que não contemplam outros indicadores como o “trabalho informal”, o desemprego de longa duração, etc.), o consumo cairá 11% e o investimento 26%.

Tal como sempre afirmámos, este plano insere-se na política de “reconfiguração” da economia europeia, desenhada para melhor servir, uma vez mais, os interesses dos países “frugais” e do eixo Paris-Bona. Tal como sempre afirmámos, e demonstrámos, o que a burguesia e o sistema capitalista e imperialista europeu vão tentar fazer – assim não tenham a oposição da classe operária e dos trabalhadores europeus e imigrantes – é fazer estes trabalhadores pagarem as custas dessa “reconfiguração” do sistema e do modo de produção capitalista em que assenta.

Os operários e trabalhadores em Portugal têm de tomar consciência de que, nenhum Plano desenhado pela burguesia satisfaz os seus interesses, antes agrava as suas condições de trabalho, de desemprego, precariedade e de miséria. Não compreender isto, transforma-os em carne para canhão para a perpetuação do modo de produção capitalista e do sistema imperialista que são os responsáveis pela sua condição de escravos assalariados.

22Jul2020

LJ

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