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PAÍS

O manifesto da treta

Este Mário Soares, só quem não o conhece!...

Na exacta véspera da greve geral nacional de 24 de Novembro, às exactas duas horas e dezassete minutos da tarde, quando alguns operários já avançavam para os locais dos seus piquetes a assumir posição e responsabilidades, Mário Soares, acolitado por alguns daqueles pândegos que o empurraram para a candidatura presidencial desastrosa de 2005 (Victor Ramalho, Medeiros Ferreira, Joana Amaral Dias e Vasco Vieira de Almeida) fez publicar um manifesto intitulado Novo Rumo, com o qual procurou surfar, como só ele sabe, a onda avassaladora do descontentamento popular que iria saldar-se pela maior greve geral dos últimos trinta anos.

Claro está que o manifesto soarista não apoiou a greve, como aliás a não apoiou nenhuma das múltiplas facções do PS (soaristas, seguristas, alegristas, etc e tal), mas, ao contrário das outras facções, a soarista tentou cavalgar a onda do descontentamento popular.

Ora, em concreto, que nos diz o Manifesto da Treta soarista?

Diz-nos que “este é o momento de mobilizar os cidadãos de esquerda que se revêem na justiça social e no aprofundamento democrático como forma de combater a crise”!...

E então o ano passado, na greve geral de Novembro de 2010, já não era o momento para a esquerda se erguer contra a crise? E durante os governos de Sócrates, também não era tempo de os cidadãos de esquerda se erguerem contra a política terrorista dos governos do PS?

Sabemos que Soares é homem para dormir sentado, deitado ou de pé: mas será que só agora acordou para a necessidade de seguir um novo rumo na política da pátria?!

Há, todavia, muitas tretas no manifesto soarista da treta. Por exemplo, esta outra treta: “É preciso encontrar um novo paradigma para a União Europeia”!...

Quem haveria de dizê-lo, senão o Dr. Soares?!

Mas ó Dr. Soares: se é preciso um novo paradigma para a União Europeia, é, obviamente, porque o actual paradigma não presta. Mas quem foi que aprovou o actual paradigma da UE e o impingiu aos portugueses, senão o Dr. Soares e os governos do PS?! Quem foi que se opôs à discussão nacional do actual paradigma e ao referendo dos tratados de adesão, de Mastricht, de Shengen, de Nice e de Lisboa, senão o Dr. Soares e todos as facções do PS?!

E, já agora, se o actual paradigma, contra o qual sempre nos opusemos, neste momento já não presta para o Dr. Soares, qual é, em concreto, o novo paradigma que o Dr. Soares propõe? E tal novo paradigma será também para não referendar?!

É que o manifesto da treta nada diz sobre a matéria do novo paradigma soarista.

Mas diz mais tretas.
Por exemplo esta:”As correntes trabalhistas, socialistas e sociais-democratas adeptas da 3ª Via foram colonizadas na viragem do século pelo situacionismo neo-liberal”.

Ah foram?! E Sócrates não é essa terceira via de Blair e Sapatero ? E não foi o Dr. Soares que meteu o socialismo na gaveta, ainda nos idos de setenta do século passado?! Em que via vai hoje o tgv do soarismo?... Vai na via que calhar, como é costume.

Outras das tretas do manifesto – ninguém vai acreditar, mas está lá – é uma tese oportunista que já circulava antes da Comuna de Paris: o novo rumo do Manifesto do patriarca do Campo Grande é “um Estado ao serviço exclusivo do interesse geral”!...

Então, mesmo que já desça o seu Outono, o Patriarca não sabe que o Estado está sempre e exclusivamente ao serviço da classe dominante e que, enquanto houver classes e luta de classes, o interesse geral é único e exclusivamente o interesse da classe dominante?!

Ora, deixe-se de tretas, Dr. Soares: tendo estado duas vezes no governo (sem contar com os provisórios) e tendo o seu PS sido governo ao longo de mais de vinte dos últimos trinta e sete anos, porque é que não instauraram nessa altura esse famoso Estado ao serviço exclusivo do interesse geral?!

E porque a conversa já vai longa e as tretas do Manifesto soarista nunca mais acabam, só mais uma treta, – a pérola das tretas:”os signatários opõem-se a políticas de austeridade que acrescentam desemprego e recessão, sufocando a recuperação da economia”.

Mas não foi essa, Dr. Soares, a política do Sócrates que você apoiou e com o qual andou de braço dado estes últimos dez anos?

Dr. Soares: cumpre aqui pedir emprestado ao povo açoriano um engraçado provérbio para fechar a resposta do país ao seu manifesto da treta: se queres falar comigo, está calado!...


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