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PAÍS

NAUFRÁGIO DO ARRASTÃO OLÍVIA RIBAU
A Cobardia da Polícia Marítima da Figueira

oliviaribau nova 01Há uma coisa que as famílias dos pescadores mortos, a classe piscatória e o povo da Figueira da Foz não haverão nunca de compreender, de esquecer e, muito menos, de perdoar, por mais longos anos que vivam: a cobarde inactividade da polícia marítima local perante náufragos que, já dentro da barra, a cinquenta metros de terra, ao fim da tarde e fora da rebentação, gritavam desesperadamente por socorro e ninguém lhes acudia.

O naufrágio do Olívia Ribau ocorreu às 19H13, conforme sinal de emergência emitido pelo equipamento de bordo da embarcação naufragada, através da rede de satélites COSPAS--SARSAT para o Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo de Lisboa. Mas nem teria sido necessário o sinal de emergência electrónico, pois o naufrágio verificou-se à vista da capitania, nas barbas do capitão do Porto, entretanto exonerado, e nas ventas dos agentes da Polícia Marítima da Figueira da Foz.

Que nada fizeram!...

Até que pelas 20H30, uma hora e vinte minutos depois do naufrágio, apareceu um cidadão no local do sinistro, de calças de ganga e descalço, que monta numa mota de água, enfrenta sozinho as vagas, e, dirigindo-se à balsa, que flutuava perto do costado do arrastão naufragado e virado ao contrário, resgatou, um a um, os dois ocupantes dela, os irmãos Conceição, levando-os para terra e daí para o hospital da Figueira.

Infelizmente, o cidadão não chegou a tempo de salvar o pescador Joaquim Manuel Comboio, mestre de redes do Olívia Ribau, que morreu a gritar por socorro, agarrado enquanto pôde ao casco da embarcação!...

polciamaritima 01O cidadão que salvou os dois pescadores da balsa chama-se Carlos Santos, conhecido na Figueira como o Chapas, de 38 anos de idade, natural da Costa de Lavos, amigo de alguns dos pescadores naufragados, agente da polícia marítima de Aveiro, que foi pai há quatro meses e usufruía de uma licença de paternidade na Figueira, sua cidade natal.

Este homem agiu por sua conta e risco, perante a criminosa incúria das autoridades marítimas nacionais e locais responsáveis pelo socorro de vidas no mar, motivado apenas pelo seu rigoroso profissionalismo, por uma ética elevada e talvez pela amizade também.

Em vez de prontamente louvada, como o foi pelos pescadores e pelo povo da Figueira, a conduta individual, mas abnegada, corajosa e heróica de Carlos Santos, teve inesperadas consequências na opinião pública da Figueira da Foz, desde logo porque foi praticada enquanto a comissão de cobardes, reunida com o capitão do porto, decidira abandonar os pescadores à sua sorte, invocando as condições adversas do mar para nada fazerem.

Por um lado, Carlos Santos provou que as condições do mar não eram tão inacessíveis que não permitissem salvar pelo menos os três pescadores que não foram engolidos no naufrágio. Bastaria, para tanto, que se tivesse actuado mais cedo e, sobretudo, actuado enquanto o capitão do porto e a polícia marítima discutiam na capitania o sexo dos anjos e abandonavam os náufragos.

E, por outro lado, provou que havia meios para salvar os náufragos, pois uma simples mota de água tinha permitido salvar dois deles.

E provou ainda que, muito embora a estação salva-vidas da Figueira estivesse fechada desde as 18H00, os agentes locais da polícia marítima, se não fossem incompetentes ou cobardes e mal capitaneados, poderiam ter salvado os três pescadores que estiveram mais de uma hora a clamar por socorro, pois a polícia marítima detinha meios materiais e humanos adequados à execução da tarefa.

Desmascarados na sua incompetência e cobardia, a polícia marítima e o capitão do porto da Figueira atiraram-se, numa primeira fase, a Carlos Santos, acusando-o de meter foice em seara alheia, ou seja, de arrojadamente pôr-se a praticar salvamento de náufragos fora da sua área de serviço, que seria a da capitania de Aveiro. O presidente da Associação Sócio-Profissional da Polícia Marítima (ASPPM), que é o sindicato dos agentes daquela Polícia, um tal Miguel Soares, um palonso sem qualquer espécie de vergonha na cara, veio comunicar à imprensa que “a missão da polícia marítima não é fazer salvamentos no mar”.

Voltaremos a este tema, mas, para já, salientemos que aquilo que a cobardia, a incompetência e o desleixo criminosos não permitiram à Autoridade Marítima Nacional, à Marinha, à capitania do porto, à polícia marítima, aos socorros a náufragos e aos bombeiros da Figueira fazer, fizeram-no a coragem, o heroísmo, a competência e a solidária humanidade de um cidadão em licença de paternidade.

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Fez o agente da polícia marítima de Aveiro, sozinho e fora da rotina e da chefia do serviço, aquilo que nenhum agente da polícia marítima da Figueira conseguiu fazer no desempenho efectivo das suas funções.

Sozinho, Chapas pusera a nu o estado de absoluta bancarrota em que se encontra a estação salva-vidas da Figueira da Foz que é, como diz um ilustre oficial de Marinha, o estado da arte de salvamento costeiro em Portugal.

A Autoridade Marítima Nacional percebeu que tinha de abafar o Chapas, e concebeu então o plano de fabricar para o Chapas uma narrativa do acontecimento que se conjugasse com a versão do portal oficial da Autoridade Marítima Nacional na internete. Afinal Chapas tinha agido, com a respectiva mota de água, ao serviço da autoridade marítima da Figueira da Foz…

Chapas, para engolir os sentimentos, foi imediatamente condecorado – condecoração aliás justíssima – pela Autoridade Marítima Nacional, a entidade em primeira mão política e criminalmente responsável pelo abandono dos náufragos do Olívia Ribau, e que se agarra agora à condecoração aceleradamente conferida ao Chapas para lançar poeira nos olhos dos pescadores e do povo da Figueira, na tentativa de fazer esquecer os crimes da própria Autoridade Marítima Nacional e dos seus agentes locais, sobretudo os crimes da incúria da polícia marítima da Figueira.

Mas como é mais fácil apanhar um mentiroso do que um coxo, a prova de que o Chapas actuou sozinho, por sua conta e risco, e não por ordem de nenhuma autoridade marítima, está em que aparece no porto às 20H30, quase hora e meia depois do naufrágio, e numa altura em que as autoridades marítimas locais estão ainda reunidas na capitania, reunião que “confirmou logo de imediato a inacessibilidade das embarcações semi-rígidas e mota de água à embarcação que se encontrava nas pedras, em virtude das condições de mar adversas”.

Esta citação é extraída, palavra por palavra e letra por letra, do primeiro comunicado da Autoridade Marítima Nacional, publicado no portal oficial da internete às 07H10 do dia 7 de Outubro, o dia seguinte ao naufrágio.

Ou seja: às sete horas e dez minutos da manhã do dia subsequente ao naufrágio, a Autoridade Marítima Nacional, no seu portal oficial, informou que as embarcações semi-rígidas e motas de água não tinham acessibilidade à embarcação naufragada, por que se encontrava nas pedras e as condições do mar eram adversas.

Porém, nós e toda a Figueira sabe que o Chapas, na sua mota de água, foi à embarcação naufragada salvar dois pescadores da balsa, os irmãos Conceição!

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