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PAÍS

Naufrágio do Arrastão Olívia Ribau

Cinco Pescadores Mortos à Porta de Casa, por Criminosa Falta de Socorro…

oliviaribau 00O crime repete-se.

O primeiro foi com a motora Luz do Sameiro, matrícula VC-283-C de Vila do Conde, que naufragou ao começo de um dia luminoso, sem nevoeiro e em mar de pequena vaga, a quinze metros da praia da Légua, frente a Pataias, a norte da Nazaré, com sete pescadores a bordo.

Com excepção de um pescador de nacionalidade ucraniana, os restantes seis pescadores, quase todos da terra mártir de Caxinas, morreram, exclusivamente por falta de socorro, à vista de uma multidão impotente e revoltada que os foi vendo desaparecer um a um, engolidos pelo mar, sem que a Marinha, as corporações de bombeiros locais ou a Força Aérea, esta com a Base Aérea nº 5, de Monte Real, a menos de cinco minutos de voo do local da tragédia, tivessem acorrido em defesa dos pescadores, que gritaram desesperadamente por ajuda, até morrerem e desaparecerem no mar.

Este crime de falta absoluta de socorro, filmado pela própria televisão e transmitido em directo, deixou o país em estado de choque, dominado por uma revolta incontrolável e por um ódio indizível.

Ocorreu o caso no dia 29 de Dezembro do ano de 2006. E só em cinco de Janeiro de 2007, o chefe de estado-maior da Armada, almirante Melo Gomes, veio assumir a responsabilidade da Marinha pela falta criminosa de socorro: ”a Marinha – disse ele, então - nunca conseguirá explicar ao público o facto de não ter podido salvar todos os sete tripulantes a tão curta distância de terra.

Uma simples prancha de surfe teria sido suficiente para salvar os homens!

Mas, apesar das desculpas e autocríticas do antigo chefe de estado-maior da Armada, a Marinha voltou a cometer o segundo crime de abandono de náufragos, não prestando nenhum socorro aos sete pescadores do arrastão Olívia Ribau, com a matrícula A-3288-C da praça de Aveiro, que naufragou à entrada da barra da Figueira da Foz, pelas 19H10, de terça-feira, 6 de Outubro.

Morreram todos à porta de casa, apenas por falta de socorro…

oliviaribau 01O arrastão, com 24 metros de comprimento e 158 toneladas métricas de arqueação, regressava da faina, ao fim da tarde, estava a pôr-se o sol, e fez-se à barra, contornando como lhe cumpria o pontão norte. Atacado por uma vaga de mar lateral, o arrastão virou-se e, em menos de dez minutos, estava afundado de casco para cima.

oliviaribau 02Dois dos pescadores, irmãos entre si, João Paulo Conceição e Adriano Conceição saltaram para a balsa e ficaram durante mais de uma hora à espera de salvamento, em luta contra uma fortíssima ondulação e um frio crescente.

Joaquim Manuel Comboio, o mestre das redes, agarrou-se ao casco da embarcação, gritando por ajuda, que nunca chegou. Os outros quatro pescadores – Américo Tarralheiro, 44 anos, de Mira, António Mendonça, 63 anos, de Ílhavo, Adriano Comboio, 41 anos e Rui Ramalho, 43 anos, estes dois últimos da Figueira da Foz – presume-se que terão ficado bloqueados na ponte de comando, segundo o testemunho de um dos dois únicos sobreviventes.

oliviaribau 03Juntou-se então no porto da Figueira da Foz, a 50 metros de vista da embarcação naufragada e dos gritos lancinantes dos náufragos clamando por socorro, uma pequena multidão de familiares, companheiros e amigos dos pescadores, e centenas de outros elementos do povo, indignados e revoltados com a polícia marítima, os socorros a náufragos, a Marinha e os Bombeiros, incapazes de mexer uma palha para salvar a vida dos infortunados pescadores.

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O naufrágio ocorreu às 19H10, à entrada da barra do porto da Figueira.

Até que pelas 20H30, passada mais de uma hora, apareceu um cidadão com uma moto de água, enfrentando sozinho as vagas e, dirigindo-se à balsa, que flutuava perto do costado do arrastão, resgatou, um a um, os dois ocupantes, os irmãos Conceição, levando-os para terra e daí para o hospital da Figueira.

O salvador chamava-se Carlos Santos, de 38 anos de idade, agente da polícia marítima a trabalhar em Aveiro, que foi pai há quatro meses e usufruía de licença de paternidade na Figueira, sua cidade natal.

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Aquilo que a cobardia, a incompetência e o desleixo criminosos não permitiram à Marinha, à polícia marítima, aos socorros a náufragos e aos bombeiros da Figueira fazer, fizeram-no a coragem, o heroísmo, a competência e a solidária humanidade de um cidadão em licença de paternidade.

Fez o agente da polícia marítima de Aveiro, fora da rotina e da chefia do serviço, aquilo que nenhum agente da polícia marítima da Figueira conseguiu fazer em efectividade de funções.

Infelizmente, chegou tarde o Carlos Santos e esteve sempre sozinho. Se tivesse podido chegar mais cedo, ainda com dia, e tivesse a seu lado um capitão do Porto, um comandante da polícia marítima e um dirigente do Instituto de Socorros a Náufragos à altura dos acontecimentos, decerto ter-se-iam salvo todos os pescadores do arrastão Olívia Ribau.

Com a homenagem e o amor de todos nós, aqui ficam os nomes dos pescadores que ontem morreram no mar, sem socorro, a menos de cinquenta metros de terra: 

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A pergunta que se põe perante a morte destes cinco heróicos trabalhadores do mar é esta: quem são os principais responsáveis por estas mortes? A resposta é só uma: a Marinha e as suas instituições ligadas ao salvamento de vidas no mar.

Não há nenhuma explicação que possa justificar a morte destes homens a cinquenta metros de terra. Eles morreram porque ninguém os socorreu. Eles morreram porque ninguém os salvou. Eles morreram porque a Marinha, o Instituto de Socorros a Náufragos, o Capitão do Porto, a Polícia Marítima, mas também a Câmara Municipal da Figueira da Foz e os Bombeiros Municipais, nada fizeram para os salvar.

Todas estas entidades são delinquentes criminosos, pela inércia e desleixo, se não mesmo pela cobardia, que caraterizaram a sua conduta.

Os pescadores de todo o país, as famílias dos pescadores mortos, mas também o povo de Ílhavo, de Mira e da Figueira da Foz exigem, em nome dos mortos inocentes e deixados ao abandono, um pedido de desculpas público e nacional do chefe do estado-maior da Armada, porque a Marinha não fez tudo o que devia ter feito para salvar os pescadores desaparecidos.

E há duas pessoas, indignas de continuar a vestir a farda de marinheiros de Portugal, não apenas porque, pela sua inércia, agiram como criminosos, mas também porque insultaram a memória dos pescadores mortos, imputando-lhes responsabilidades que nunca poderão ter tido nas suas próprias mortes.

Referimo-nos ao Capitão do Porto da Figueira da Foz, capitão-de-fragata Paulo Jorge Oliveira Inácio, pela incompetência de liderança e irresponsabilidade perante a tragédia do naufrágio do arrastão Olívia Ribau, pois não foi capaz de mobilizar os meios e de movimentar os efectivos necessários à salvação da vida dos pescadores naufragados.

E o porta-voz da Autoridade Marítima, capitão-tenente Nuno Galhardo Leitão, que não fez outra coisa senão acusar, nas suas respectivas e odiosas declarações à comunicação social, os próprios pescadores desaparecidos como responsáveis das suas próprias mortes…

Ora, o capitão-tenente Nuno Leitão finge esquecer que a responsabilidade do naufrágio do arrastão Olívia Ribau deve-se ao facto de a Marinha ter declarado aberta a barra do porto da Figueira da Foz, numa altura em que todas as barras dos portos portugueses estavam fechadas, com excepção das da Figueira e de Leixões.

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E finge esquecer também, que a barra do porto da Figueira da Foz só foi mandada fechar – e imediatamente – depois do naufrágio do arrastão Olívia Ribau. Casa roubada trancas à porta…

E acusa os pescadores mortos de não terem envergado os coletes salva-vidas, fingindo esquecer que o uso daquele equipamento naquela posição e naquelas circunstâncias, não só não era obrigatório, como nem sequer é recomendado.

Este porta-voz da Armada é um sujeito odioso para todos os pescadores portugueses e suja o nome da Marinha a que pertence, mas não deve continuar a pertencer.

A cultura da Marinha Portuguesa sempre foi a de dar tudo para proteger os nossos pescadores. Como pode essa cultura solidária ter dado lugar a uma cultura de abandono e de acusação?

A negligência da Marinha e de alguns dos seus oficiais na morte dos pescadores do arrastão Olívia Ribau fê-los a todos incorrer em responsabilidade criminal e civil perante as famílias desses inditosos trabalhadores.

As quais famílias devem exigir à Marinha a indeminização a que têm direito pela morte criminosa dos seus homens.

Mestre José Festas, presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar exigiu explicações à Marinha e à autoridade marítima. Ora, toda a gente sabe que a estação salva-vidas do Instituto de Socorros a Náufragos estava fechada à hora do naufrágio, porque abre às 09H00 e fecha às 18H00, como se fosse uma repartição de funcionários públicos.

patraomacatrao01No Instituto de Socorros a Náufragos não havia ninguém disponível para acudir aos pescadores naufragados, e até o salva-vidas Patrão Macatrão, o único que tem capacidade para acudir a uma situação como aquela, estava indisponível, devido a uma avaria técnica!...

Aqui, a responsabilidade do governo de Passos Coelho e Assunção Cristas é total e não tem desculpa possível, pois os cortes no orçamento deixaram o país sem socorro marítimo.

O povo português está unido como um só homem na defesa das famílias dos pescadores mortos por incúria da Marinha e do governo.

Honra aos pescadores mortos no naufrágio do arrastão Olívia Ribau!

Estas mortes criminosas dos nossos pescadores têm de acabar! E vão acabar de uma vez por todas!

09.10.2015


Arnaldo Matos



 
 
 

 
 
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