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PAÍS

BARRAGEM DO FOZ TUA
Entrevista a Manuela Rodrigues
Publicado em 19.05.2015 

manuela rodrigues 01O Luta Popular Online esteve presente no funeral de Bruno José Duarte Esteves, operário assassinado na barragem do Foz Tua no passado dia 12 de Maio, tal como foi noticiado no nosso jornal.

Entre os muitos elementos do povo que compareceram ao funeral estava presente Manuela Rodrigues companheira do operário Valter Rodrigues de 54 anos, assassinado nesta mesma barragem em 26.12.2012.

Manuela Rodrigues concedeu uma entrevista ao nosso jornal em que denuncia como provocatoriamente tanto a EDP como a ACE limpam as mãos desta morte, sem sequer cumprirem o mínimo que lhes é exigido.


Luta Popular – Qual a sua situação actual, após a morte do seu marido?

Manuela Rodrigues –
Continua tudo na mesma, não têm feito nada!
No ano passado, em Novembro, escrevi duas cartas - uma à EDP, outra à empresa ACE para qual o meu marido trabalhava. A EDP até agora não me deu resposta. A empresa, ACE, respondeu-me, mas não ao que eu lhe pedia, que era quase nada, para poder ter uma situação digna, porque neste momento com 254€ é muito difícil sobreviver, muito mesmo.
O que me vale são os meus filhos.


L.P. – Como é que as coisas correram até aqui, na relação com a EDP?

M.R.A EDP na altura, mostrou que queria ajudar as famílias, com uma pequena verba. E até com empregos, para mim e para os meus filhos. Até à data nada fizeram. Está tudo na mesma. Telefonaram ao meu filho a dizer que iam analisar a carta, até hoje ainda nada me disseram, não me deram resposta nenhuma, e eu continuo a aguardar. Eu pedia unicamente trabalho para aquilo que eu estou habilitada a fazer: limpeza ou qualquer outro.


L.P. – O que é que tenciona fazer agora?

M.R.Vou escrever novamente ao ACE, porque eles, recorde-se, prestaram-se a pagar as despesas do funeral, pelo que lhes pedi que me dessem a pequena verba que iriam receber da Segurança Social. No entanto, eles (ACE) responderam-me que ainda não a tinham recebido; mas, eu soube, entretanto, com dados que me forneceu o Tribunal de Trabalho, que a Segurança Social já lhes tinha enviado o valor referente ao funeral, ou seja, estão a tentar enganar –me!


L.P. – Alegam que ainda não receberam, é uma vergonha!

M.R.É! Para mim é uma vergonha, uma vergonha mesmo, porque não há dinheiro nenhum que pague a morte de uma pessoa, não! Isto é fazer pouco das famílias, isto é uma migalha que deram, isto é uma esmola. Gostaria de lhes perguntar se as mulheres deles, caso ficassem na mesma situação, se conseguiam sobreviver com a migalha que me dão.


L.P. – Em relação à sua pensão o que lhe disse a Segurança Social?

M.R.Da segurança social responderam-me que, uma vez que eu já estava a receber do seguro não tinha direito à pensão de sobrevivência atribuída pela segurança social.


L.P.
A pensão de sobrevivência para a qual o seu marido descontou?

M.R.Sim, o meu marido descontou ao longo de 33 anos. Não tenho direito, porque segundo a Segurança Social “não se pode receber as duas”. Confrontada com esta situação optei pela pensão atribuída pelo seguro por ser um pouco maior, que a estipulada pela Segurança Social. Estou de mãos e pés atados.


L.P. – E, são só 254€…

M.R.Com o que recebo do seguro e se a Segurança Social me atribuisse os 227€ da pensão de sobrevivência, já me dava para ir vivendo, assim é muito complicado, tem de ser muito bem esticado, é impossível, só com a ajuda dos meus filhos.


L.P. – Precisam eles próprios de ajuda…

M.R.É verdade, infelizmente, o Pai perdeu a vida a trabalhar, para os poder ajudar. E neste momento são eles que têm que me ajudar a mim.

 

A denúncia da Sra. Manuela Rodrigues é um alerta a todos os trabalhadores, nomeadamente aos trabalhadores das barragens que estão a ser construídas pela EDP, cuja segurança é coordenada por empresas que têm apenas em vista o lucro imediato, sem qualquer preocupação com a vida dos trabalhadores que apenas são vistos como um instrumento para obtenção de riqueza, ou seja, não são mais do que carne para canhão.





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