PAÍS

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE LOURES - SESSÃO EVOCATIVA DO 25 DE ABRIL
Contra a Manipulação da História
Publicado em 25.04.2015 

2015-04-25-joao-alexandreRealizou-se, hoje, no Pavilhão Leonel Pires, em Bucelas, a primeira sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Loures, para assinalar a passagem do 41.º aniversário do 25 de Abril.

Nesta sessão, o camarada João Alexandre, deputado municipal do PCTP/MRPP, seu primeiro orador, demarcou-se, logo no início da sua intervenção - que transcrevemos na íntegra -, de uma forma frontal e corajosa, dos oportunistas de todos os matizes, ao desmascarar a manipulação dos acontecimentos ligados ao golpe militar do 25 de Abril de 1974 e a forma como a verdade histórica tem sido deturpada, criando-se a ilusão de que vivemos, desde essa data, em democracia.


Bom dia.

Nesta cerimónia evocativa do 25 de Abril, quero começar por dirigir uma saudação especial a todos os trabalhadores, democratas, revolucionários e verdadeiros comunistas que travaram um duro combate e, muitos deles, sacrificaram as suas próprias vidas, pelo derrube do regime fascista e a todos os que, após a queda da ditadura colonial-fascista de Salazar e Caetano, nunca guardaram ilusões sobre o novo regime pseudo-democrático surgido após o golpe de estado de 25 de Abril de 1974, nem sobre a patranha traidora da aliança povo-MFA e prosseguiram até hoje incansavelmente a luta pela emancipação dos explorados e oprimidos, pelo socialismo e pelo comunismo.

Por mais que alguns oportunistas tentem fazê-lo, não é possível apagar a história e manipular a verdade dos factos junto das gerações mais jovens que não viveram o período que se seguiu ao 25 de Abril.

E um desses factos que é indesculpável omitir hoje, quando se assinalam os 40 anos das eleições para a assembleia constituinte, foi a ilegalização do MRPP - que com orgulho aqui represento - e a proibição de se candidatar àquelas eleições ditas livres.

Depois de ver um dos seus militantes – Ribeiro Santos - assassinado pela pide em 1972, o MRPP continuou a ser perseguido, agora pela mão de uma nova ditadura que tinha no Conselho da (Contra)Revolução o seu órgão político e no Copcon o seu braço armado, tudo sob a hegemonia do PCP, dominante nos governos provisórios de Vasco Gonçalves. Isto, para impedir que o forte movimento operário e popular de então pudesse ter uma voz verdadeiramente revolucionária no parlamento constituinte que contribuísse para tornar vitoriosa a tomada do poder pela classe operária, apoiando-se na aliança com os camponeses.

No dia do golpe de estado de 25 de Abril de 1974, contra a vontade dos militares que apelaram ao Povo Português que ficasse em casa, as massas populares recusaram essas ordens e demonstraram nas ruas que não era esse o seu caminho, mas que estavam fartas do fascismo e queriam continuar a lutar até ao fim contra a guerra colonial e pela independência total dos povos das colónias, pela destruição do estado fascista, pela liberdade, pela democracia, pelo Pão, pela Terra e pela independência nacional.

Todas as liberdades e direitos que os trabalhadores alcançaram após o 25 de Abril foram conquistados com uma luta dura, não apenas contra os seus inimigos directos – o patronato e os seus lacaios – como contra os oportunistas e vendedores de ilusões numa falsa democracia que desde sempre apenas serviu como fachada para, sob a sua capa, a contra-revolução se reforçar até levar hoje à liquidação total desses direitos e liberdades e à destruição da nossa soberania e independência nacional sob a ditadura da coligação fascista PSD/CDS.

É assim que, em nome da democracia e da Constituição de 1975, se decretam as medidas de austeridade mais brutais contra os trabalhadores e reformados.

Que os jovens com elevados níveis de qualificação sejam tratados como parasitas e incentivados a emigrar.

É assim que, em nome da democracia parlamentar burguesa que todos os oportunistas veneram, se tenha destruído a nossa indústria, as Pescas e Agricultura para que países estrangeiros nos possam vender os seus produtos excedentários e nos mantenham dependentes.

E que se destruam milhões de postos de trabalho que enviaram milhares de trabalhadores para a miséria e o desemprego.

E se liquide o Sistema Nacional de Saúde, um dos mais desenvolvidos e modernos, em benefício do sistema privado de saúde.

E é também na defesa do regime dito democrático constitucional que permanece ainda em funções um Presidente da República ignorante e cúmplice do governo de traição nacional PSD/CDS.

E que este governo nos minta sistematicamente com truques de propaganda dignos de um Goebbels.

Como é sob essa democracia e em nome dela que se imponha o empobrecimento brutal e forçado de milhares de cidadãos para tornar os ricos os mais ricos.

E que este governo destrua os mais elementares direitos laborais com a colaboração das centrais sindicais, para que sejamos tratados como escravos.

E é também sempre sob a capa da democracia que os partidos abrilistas apadrinharam que se vai demolindo a Segurança Social, para beneficiar as Companhias de Seguros ligadas ao grande capital e se lance na miséria e na fome um número inaudito e intolerável de milhares de jovens e crianças.

Hoje, impõe-se concluir que, mesmo o 25 de Abril em que muitos viram a sua emancipação, deixou definitivamente de existir, por enterradas que foram progressivamente as liberdades democráticas e os direitos fundamentais por que então se lutou.

Logo que foi selada a traição em que consistiu a assinatura do memorando de entendimento com a Tróica e que surgiu para o executar o governo de traição nacional Coelho/Portas, apoiado na coligação fascista PSD/CDS, o PCTP/MRPP bateu-se pela luta sem tréguas contra as medidas terroristas e vende-pátrias desse governo e pelo seu derrube e pela formação de um governo de ampla unidade de todas as forças políticas e sociais democráticas e patrióticas.

Isto enquanto outros preferiram falar em mudanças de políticas, quando era evidente que essas políticas só podiam mudar com o derrubamento do governo seu autor e da demissão do presidente da república, seu repugnante sustentáculo.

Confrontados com os efeitos da implantação de uma verdadeira ditadura, em que, mesmo para as próximas eleições, a coligação fascista no poder - com a cobertura, para já, do PS - se prepara para consagrar legalmente o silenciamento dos partidos extra-parlamentares, os trabalhadores e os democratas têm de prosseguir até ao fim a sua luta pelo derrube deste governo de traição nacional e, acima de tudo, travar a sua última tentativa desesperada de consumar a privatização da TAP e da CP e dos transportes rodoviários, ferroviários e fluviais (Metro, Carris, Soflusa, Transtejo, STCP) nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.

Mas, principalmente, não basta, em próximas eleições legislativas, derrotar os partidos da coligação fascista actualmente no poder. É necessário que o voto se concentre em quem, como o PCTP/MRPP, se propõe lutar dentro e fora do parlamento pela formação de um governo de ampla unidade democrática e patriótica – ser de esquerda é, neste momento, ser democrata e patriota – que possa levar o país a sair do Euro e a instituir o Novo Escudo, recuperando a nossa soberania monetária, financeira e orçamental, não pagando a dívida e adoptando um plano de desenvolvimento económico autónomo e ao serviço do povo português.

ABAIXO O GOVERNO PSD/CDS!
FORA O EURO!
VIVA O GOVERNO DEMOCRÁTICO E PATRIÓTICO!
O POVO VENCERÁ!