CampanhaFundos202206

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PAÍS

Fora o Euro! Venha o Escudo!

I
Uma Discussão Central que é também Centro de Todas as Discussões

Na presente campanha eleitoral para o parlamento europeu, e atendendo à gravidade da situação política e económica em que o País se encontra, exigindo a adopção de medidas urgentes, todos os partidos políticos concorrentes àquele acto eleitoral, num total de dezasseis, deviam deixar-se de tretas e concentrar todos os seus esforços a discutir entre si, em todo o espaço público de discussão disponível, uma só e única questão fundamental: Portugal deve sair ou deve permanecer no Euro?

A nossa resposta é clara: Portugal deve sair do Euro. E deve sair imediatamente, porque, quanto mais tarde, pior.

Convirá lembrar que o PCTP/MRPP foi o primeiro partido – e, até agora, o único –que defendeu a saída de Portugal do Euro, num debate de ideias ocorrido na cidade do Porto, em 16 de Junho de 2012, debate de que foi feito um vídeo, disponibilizado alguns dias depois na internet, e que foi visto por dezenas de milhares de pessoas.

Para que conste, o nosso partido defendeu publicamente a saída de Portugal do Euro quase um ano antes da publicação do livro do probo economista Dr. João Ferreira do Amaral, intitulado Porque Devemos Sair do Euro, primeira obra publicada sobre aquela momentosa questão, mas só em Abril de 2013: sendo todavia certo que aquele economista nunca aceitou a adesão de Portugal ao Euro, assim como nós nunca aceitámos a inclusão do nosso País nas comunidades europeias.

Hoje, não há praticamente ninguém que não compreenda - ou que, pelo menos, não suspeite – que a destruição progressiva, mas profunda, da nossa economia, a escandalosa bancarrota financeira, a falência dos bancos, o empobrecimento acelerado da população, a desvalorização do trabalho, a liquidação da classe média, a destruição da soberania e da independência nacional, o desaparecimento das conquistas e liberdades democráticas e a crescente fascização da vida política são óbvias consequências directas ou indirectas da introdução forçada de uma moeda única forte numa economia tão débil como era, na altura, a economia portuguesa.

E cada vez se mete mais pelos olhos dentro dos trabalhadores que a submissão ao Euro criou, no seio da União Europeia, um pequeno conjunto de países, com a Alemanha à cabeça, que enriquecem ao mesmo ritmo e à mesma velocidade com que Portugal e outros países periféricos desgraçadamente empobrecem.

Sair ou não sair do Euro é pois a questão política que nos deve primacialmente ocupar.

Tanto em Portugal como nos demais países triturados pelo Euro, é cada vez maior e mais forte o movimento popular com vista à saída da União Económica e Monetária, ou seja, com vista à saída da Zona Euro.

Mas é também verdade que, à medida que cresce este movimento popular, os políticos e ideólogos da classe dominante nos dezoito países da Zona, comandados pela batuta germânica, se encarniçam com a maior arreganho, primeiro, para proibir a discussão sobre o Euro, e, segundo, para tentar substituir essas discussões por temas menos perigosos e mais acolhedores para o capitalismo económico e financeiro: política pós-tróica, a saída limpa, a saída cautelar, ou, na pior das hipóteses, a discussão sobre mil e um manifestos para a reestruturação das dívidas soberanas.

E, no meio de todas essas tentativas de proibir ou afastar a discussão sobre a saída do Euro, até os representantes políticos da esmagada classe média tudo fazem para fugir à discussão da verdadeira causa do seu esmagamento: o Euro.

Tudo, porém, é simples de equacionar. Tem Portugal uma dívida insustentável e impagável de 220,6 mil milhões de euros, equivalente a 135% do produto interno bruto (PIB): que fazer? Dizem os operários: não pagamos! Diz a classe média ou pequena burguesia: pretendemos cortes! Dizem os capitalistas: o povo paga, ai paga, paga...

Com o Euro é a mesma coisa. Dizem os operários: Fora o Euro! Venha o Escudo! Diz a classe média: tenho medo que me levem o euro! Dizem os capitalistas e banqueiros: Morro, se me tiram o euro!

É fácil de ver a natureza de classe de cada posição sobre a dívida e sobre o euro.

Porque não discutir o assunto?!

Vejamos então os males que trouxe o Euro e a quem, com os seus porquês, e as razões e os modos de expulsar o Euro e recuperar, numa base nova, o Escudo.

 


II
O Euro, a Ruína Financeira e a Destruição da Economia Portuguesa

Em 1960, o Reino Unido, a Áustria, Portugal, a Dinamarca, a Noruega, a Suécia e a Suíça, sete dos países europeus que não tinham aderido à Comunidade Económica Europeia (CEE) instituída pelo Tratado de Roma de 25 de Março de 1957, fundaram entre si a EFTA (European Free Trade Association), associação europeia de comércio livre, a que mais tarde aderiram a Finlândia, a Islândia e o Liechenstein.

O que caracterizou esta organização económica é que cada país conservou a sua moeda –- e, por via de consequência, a sua soberania monetária, cambial, fiscal e orçamental – e defendia os seus interesses económicos através de um princípio muito simples: os produtos importados dos estados membros estavam isentos do pagamento de impostos aduaneiros, o que serviu para fomentar as trocas internacionais no espaço desses países.

Foi essa estrutura organizativa, com esse tipo de relacionamento, que permitiu uma rápida e relativamente poderosa industrialização do país, com o desenvolvimento do proletariado, o crescimento do produto interno bruto, a melhoria dos salários, o aumento das exportações e um reforço do escudo.

Datam dessa época o desenvolvimento económico da faixa litoral portuguesa de Setúbal a Braga, a industrialização de Setúbal, Lisboa, Leiria, Aveiro, Maia, Guimarães e Braga, o estabelecimento da indústria têxtil, do calçado, do vestuário, do Vale do Ave e até a criação de um sector da indústria pesada, da siderurgia e dos estaleiros navais.

Após a revolução democrática de Abril, sem que o assunto fosse discutido publicamente, o primeiro governo constitucional do PS e de Mário Soares definiu, no programa de governo apresentado na Assembleia da República, a chamada “opção europeia de Portugal”, pedindo o governo a adesão do país à Comunidade Económica Europeia.

As negociações de adesão à CEE arrastaram-se por longos meses e por anos e, a dada altura, quando já estavam praticamente concluídas, foram mandadas parar e ficar à espera das negociações de adesão da Espanha que, entretanto, também solicitara a entrada na CEE.

A precipitada adesão à Comunidade Económica Europeia e a maneira incompetente, irresponsável e traidora como foi negociada essa adesão, sem nenhum controlo nem discussão democrática da parte do povo português, constituem os principais motivos que levaram à situação desastrosa em que se acham hoje Portugal e os Portugueses.

Não foi Portugal que entrou na CEE, mas a CEE que entrou em Portugal...

Nas negociações de adesão, Portugal desmantelou, em favor da Espanha e dos países mais ricos da CEE (Alemanha, França, e, mais tarde, Suécia e Finlândia), toda a economia que tinha logrado construir em 15 anos de associação à EFTA.

Foi desmantelada toda a indústria pesqueira, das farinhas de peixe e das conservas, e foram destruídas as frotas mercante e de pescas, com a entrega da nossa zona económica exclusiva e das nossas reservas piscícolas e marítimas aos espanhóis e outras frotas estrangeiras.

Foi desmantelada a nossa indústria mineira, siderúrgica e de construção naval, com entrega desses sectores à Inglaterra, à Alemanha, à Suíça e à Itália.
Foram destruídas a nossa agricultura e a nascente indústria agro-pecuária, recuperados os latifúndios no sul do país e liquidados a pequena propriedade e os pequenos agricultores do centro e do norte, com o reatamento acelerado da emigração, o abandono da produção de cereais, de carne e do leite.

Em suma, o país foi desindustrializado e perdeu o núcleo duro da sua classe operária, foi desagriculturizado e perdeu os pequenos e médios agricultores e os assalariados rurais, foi desmaritimizado e perdeu a classe piscatória, os operários e as indústrias de pesca, a frota de comércio e os seus trabalhadores.

De um momento para o outro, foram reduzidas as nossas exportações e aumentaram incontrolavelmente as importações de tudo ou quase tudo o que precisávamos e deixáramos de produzir, incluindo os produtos alimentares.

É certo que se receberam ajudas de pré-adesão e de fundos de coesão, mas esse foi o preço pelo qual o imperialismo germânico e seus aliados compraram a burguesia nacional portuguesa traidora e vende-pátrias e não o preço de um novo desenvolvimento económico do país e do seu progresso.

É aqui que entra, para conduzir e acelerar este processo de aniquilamento da economia portuguesa, sua excelência o Euro.

Até à criação do euro, a política de desmantelamento da economia portuguesa dava pelo nome eufemístico de política de convergência nominal, com a qual a Comissão Europeia e o imperialismo europeu faziam crer que tudo quanto víamos como desmantelamento económico de Portugal era um processo de aproximação aos centros mais desenvolvidos da economia europeia...

A unificação monetária nunca esteve prevista no Tratado de Roma. Foram apenas a crise do petróleo, em 1973, antecedida da crise geral do sistema monetário estabelecido no final da II guerra mundial (sistema de Bretton Woods ou do padrão ouro), que levaram a Comunidade Económica Europeia a instituir um Sistema Monetário Europeu (SME), onde a moeda de cada país tinha um valor definido para com uma unidade de conta europeia – o Ecu -, o qual Ecu não era uma moeda, ou então era apenas uma moeda fictícia. Cada unidade monetária nacional – o marco alemão, a libra inglesa, o franco francês, o escudo português, etc. – tinha o seu valor definido por uma dada equação com o Ecu: o marco valia x Ecus, a libra y Ecus, o escudo z Ecus e, mantendo as mesmas proporções, o escudo valia a marcos, b libras, c francos e assim sucessiva e proporcionalmente.

A partir de certa altura, os estados membros da CEE foram obrigados a garantir entre as suas moedas nacionais uma dada banda de flutuação, de modo a que não ocorressem nem valorizações excessivas nem desvalorizações incontroláveis entre as moedas do sistema.

Mas cada país da CEE mantinha ainda a sua soberania monetária, cambial e orçamental.

Ora, o sistema monetário europeu gerou todavia um problema complicado: é que a banda de flutuação entre os valores das moedas desencadeou uma especulação cambial incontrolável nos mercados internacionais, acabando por revalorizar algumas moedas e desvalorizar outras, como foi o caso do escudo.

Para cortar o mal da especulação pela raiz, os ideólogos da CEE resolveram, de uma só assentada, criar o mercado único europeu e uma moeda única europeia – o Euro -, o que fizeram pelo Tratado de Maastricht, de 7 de Fevereiro de 1992.

Apesar de o Euro ser uma moeda única para os países que subscreveram Maastricht [e não foram todos, como se sabe, pois, entre outros, o Reino Unido (a libra) ficou de fora], o Euro surgiu na base de uma relação de valores com as moedas nacionais descrita no antigo sistema monetário europeu.

Assim, em Portugal, o valor do Euro correspondia a cerca de 200 escudos (mais exactamente: 200,482 Esc.).

Ou seja. O Euro tinha um preço próprio para cada país de Maastricht: para a Alemanha, o Euro custava menos que dois marcos (1,95583 marcos), mas para Portugal o Euro custava 200,482 Esc...

Deste modo, para ganhar um euro, o operário português tinha de trabalhar acima de 100 vezes mais que um operário alemão para ganhar o mesmo euro.

É a introdução desta moeda única extremamente forte numa economia imensamente débil e já desarticulada pelos mecanismos da adesão à CEE, como a portuguesa, que levou à liquidação total da nossa economia e à nossa ruína financeira.

Hoje, a nossa indústria produz apenas 13% do PIB, quando, na altura do 25 de Abril, produzia 40%; hoje, o sector primário (agricultura e pescas) produz apenas 2% do PIB, quando, naquela data produzia 30%.

Deixou assim Portugal de produzir bens transaccionáveis, o que teve como consequência a diminuição dramática das exportações e o aumento incontrolável das importações, levando o défice da balança externa a uma situação desesperada.

Nos anos que vão de 1994 a 2000, a dívida pública portuguesa, então expressa em escudos, desceu de 57,3% para 48,4 % do PIB. E desde que adoptámos o euro, a dívida pública portuguesa subiu de 48,4%, em 2000, até 128,7%, em Dezembro de 2013, e chegará aos 140% do PIB no próximo mês de Setembro.

Com o euro, não houve um só ano em que não subisse, quase exponencialmente, a dívida pública.

O euro acarretou, em Portugal mas também na União Europeia, a falência, encerramento e deslocalização de milhares de empresas produtoras de bens transaccionáveis, e impôs uma distorção completa do regime económico português, com um crescimento galopante do desemprego, sobretudo do desemprego jovem.

O país está na bancarrota, os bancos estão falidos, a miséria e o empobrecimento das massas não param.

Qual a solução política imediata para esta crise demolidora?



III
A Solução da Tróica e do Governo de Traição Nacional Coelho/Portas

Se, em outra galáxia, um extraterrestre tivesse estado a escutar a Terra nos últimos seis anos e a escuta, por casualidade, tivesse recaído sobre o território português, o extraterrestre relataria aos seus chefes o resumo das escutas efectuadas, dizendo-lhes que o planeta Terra, desde o derradeiro governo de um tal Sócrates até ao actual governo de Coelho, Portas e do big brother Cavaco, aparentemente só tem um problema: a dívida e como pagá-la.

Estranha coisa será a dívida desses terráqueos, diriam os nossos irmãos extragalácticos!

Ora, a dívida de que aqui se fala, também chamada dívida externa ou dívida soberana, tem origem nos empréstimos contraídos pelo Estado para financiar os seus défices: o défice orçamental e o défice externo, no essencial.

A dívida não é, pois, a causa dos nossos problemas, mas a consequência desses problemas, ou seja, o resultado dos problemas económicos e financeiros que inevitavelmente conduzem àqueles défices.

A dívida só é importante para os credores; para os operários e para todo o povo português, o que é importante são as causas económicas que conduziram e conduzem ao endividamento.

E para que fique tudo dito de uma só vez, as causas que conduzem à dívida são também as mesmas causas que conduzem à exploração e à opressão dos trabalhadores.

Por isso, a solução do problema da dívida é uma para os credores, os bancos, os monopólios capitalistas, o imperialismo alemão, as instituições europeias, o Fundo Monetário Internacional, a Tróica, o presidente da República e o governo de traição nacional Coelho/Portas, e é outra para os operários, os trabalhadores, a juventude, os desempregados, os reformados, os pensionistas, os idosos, para todo o povo em geral.

Vejamos, em primeiro lugar, a solução imposta pela Tróica e por todas as forças que ela representa, e a que se submetem, como cães fidelíssimos, o governo de traição nacional Coelho/Portas e o presidente da República.

A lógica dessa canalha é tão simples quanto errónea: se a dívida resulta dos défices orçamental e externo, acabem-se então com os défices, para, com o dinheiro assim poupado, se pagar aos credores.

Se há um défice orçamental, cortem-se então as despesas do Estado nesse orçamento, e aumentem-se nele as receitas, até que fiquem equilibradas as despesas com as receitas orçamentadas; tal é a lógica da Tróica e da teoria económica neoliberal que a sustenta.

E que despesas se devem então cortar?

Pois obviamente aquelas despesas que não prejudiquem os credores e seus lacaios: as despesas com a educação, com a saúde, com a assistência social, com as pensões, com as reformas, com os salários dos funcionários públicos, com os subsídios aos desempregados, com o leite das crianças, com a inclusão e reinserção social.

E que receitas é que devem ser aumentadas?
Pois obviamente o IVA dos que são obrigados a comer fora de casa, o IVA sobre tudo o que se come e bebe e na taxa máxima, os cortes nos salários dos funcionários públicos, os cortes nos subsídios de férias e de natal, e o imposto sobre os rendimentos do trabalho, com novas taxas e até com sobretaxas.

E tudo isto para todo o sempre, pelo menos enquanto houver dívida a pagar, sendo certo que os credores e seus cachorros bem sabem que, com tal política de corte nas despesas e aumento das receitas, haverá sempre dívida a pagar e cada vez maior será a dívida.

Mas, em contrapartida, credores e seus cães não deixam de exigir alguns aumentos estratégicos nas despesas – como por exemplo, a despesa com o pagamento de bancos falidos (BPN e BPP: dez mil milhões de euros) e a recapitalização de todo o sistema bancário praticamente falido, da Caixa Geral de Depósitos ao Banif, com trinta mil milhões de euros.

E, ainda em contrapartida, os credores e seus abutres não deixam de exigir a redução estratégica de alguns impostos, como sucedeu com o desconto de 2% no IRC, um imposto que, como se sabe, só é pago pelos capitalistas e cujo bónus de 2% faz diminuir as receitas orçamentais em três mil milhões de euros ao ano.

Resumida fica assim a política contra-revolucionária de austeridade e empobrecimento generalizados, aplicada pela Tróica e pelo seu governo de lacaios, desde Passos Coelho a Cavaco, com vista a eliminar o défice orçamental, alegando que o nosso Povo viveria acima das suas possibilidades.

Relativamente à eliminação do défice externo, a política do governo e da Tróica é também de austeridade e empobrecimento generalizados, mas actua directamente sobre o valor do trabalho, reduzindo os salários – que é o preço da força de trabalho – a níveis inferiores ao do valor social de mercado da própria força de trabalho. Pretendem a Tróica e seus lacaios reduzir ao extremo do intolerável os salários e todos os custos do trabalho, por forma a produzirem-se bens transaccionáveis a custos inferiores aos que são praticados no mercado global.

É aqui que entra o Euro, moeda única forte e cara, que arruína os operários, os trabalhadores e toda a economia portuguesa.

Os nossos leitores estão com certeza entre aqueles homens e mulheres que vão todas as semanas comprar os seus abastecimentos às praças, mercados e supermercados; e já repararam, com gritante estranheza, que nesses locais se acham à venda alhos provenientes da China ou espargos oriundos do Equador e do Peru, mais baratos do que os produzidos em Portugal, apesar de terem de pagar uma viagem de meia volta ao mundo para cá chegarem...

O que é que explica este fenómeno?

Explica-o o euro. O euro é, comparado com o yuan chinês, o dólar do Equador ou o sol do Peru, uma moeda tão desproporcionadamente forte e cara, que um português pode comprar, em Lisboa, bens produzidos no outro lado do mundo, mais baratos do que os mesmos bens produzidos em Caneças.

A consequência de uma tal moeda está em que Portugal deixou de produzir e passou a importar, porque fica mais barato, e deixou de produzir porque não podia exportar, porque produzia muito caro.

Tudo por causa do excessivo valor da moeda única, o euro, para uma economia tão débil e tão frágil como a nossa, e não por causa dos custos do trabalho nacional que, nos seus melhores dias, nunca ultrapassou metade dos custos médios do trabalho europeu.

Tal é pois o euro a verdadeira e única causa dos défices da nossa balança comercial.

A Tróica e seus lacaios internos impuseram como único método para reduzir ou eliminar aquele défice externo a redução imediata, progressiva mas permanente, dos salários dos trabalhadores e a redução de todos os custos do trabalho, desde a taxa social única, a pagar pelos trabalhadores e sem contribuição do patronato, até o aumento e prolongamento da jornada de trabalho não pago e aos despedimentos sem justa causa e sem indemnização.

Com esta política contra-revolucionária o que nos espera é a ruína total da nossa economia, o roubo permanente da força de trabalho, o empobrecimento generalizado, o desaparecimento da população, a emigração e a morte do País.

Comunga desta solução a teoria da reestruturação da dívida, assunto já debatido em anteriores escritos publicados no Luta Popular sobre a matéria e que aqui se dão por reproduzidos por breve nomeação.
Todo o povo português se deve unir como um só homem para derrotar sem dó nem piedade e por todos os meios ao seu alcance esta política contra-revolucionária da Tróica e do governo de traição nacional Coelho/Portas.
É a independência e a sobrevivência de Portugal que está em causa.



IV
A Solução Democrática e Patriótica: Saída do Euro Com Moeda Própria

No quadro da União Política e Monetária, no quadro de Maastricht e do Tratado Orçamental, no quadro do Euro, em suma, Portugal não tem futuro.

Pelos montantes e altas taxas de juro atingidos, Portugal não pagará nunca a dívida pública, e a dívida pública crescerá todos os anos incontrolável e exponencialmente. Em três anos de Tróica e do governo de lacaios Coelho/Portas, a dívida quase duplicou e o País tem vivido até agora em recessão económica, em desemprego crescente e em emigração incontrolável.

Portugal não é mais um país soberano e independente, e foi transformado, apesar dos seus mais de oitocentos anos de história, num protectorado alemão, dirigido por uma tróica de estrangeiros.

Portugal é um país de 2 000 000 de pobres, de mais de um milhão de desempregados, de 2 000 000 de trabalhadores ganhando abaixo do salário mínimo nacional, de trabalhadores que apesar de estarem empregados passam fome.

A política em curso de desvalorização interna do trabalho, de par com o açaime imposto pelo tratado orçamental, impedem Portugal de recuperar a sua autonomia, a sua soberania, a sua independência política e económica.

Portugal deve retomar nas suas mãos o seu destino, saindo imediatamente do Euro. E, simultaneamente com a saída do Euro, deve instaurar a sua própria moeda, que é de toda a conveniência mantenha o nome de Escudo.

O Escudo deve ser criado e posto em circulação no dia da nossa saída do Euro e, nesse dia, com o valor cambial igual ao do Euro, de tal modo que 1 euro = 1 escudo.

Ainda nesse mesmo dia, o governo democrático e patriótico deve tomar posse de todas as unidades e de todo o sistema bancário português, para, sob o seu controlo político e, se necessário, militar, impedir a ruptura desse sistema.

Todas as contas bancárias em euros serão automaticamente convertidas em contas bancárias de iguais montantes e saldos em escudos.

Temporariamente, e pelo tempo que for necessário, o Euro deixará de circular em Portugal.

No dia posterior ao da entrada em circulação do Escudo, o governo deverá determinar uma desvalorização desse mesmo Escudo em cerca de 30%, o que implicará uma redução imediata da dívida nesse mesmo valor, sendo certo que, em termos internos, a desvalorização do escudo implica desvalorização dos activos, não afectando substancialmente os sujeitos envolvidos.

Terá de ser encontrada uma solução protectora dos depósitos bancários até 100 000 euros e dos planos de poupança reforma.

Cumpre esclarecer e ter sempre presente que a substituição do euro pelo escudo acarretará, após a desvalorização inicial, uma desvalorização relativa dos salários, talvez até um máximo de 15%.

Não pretendemos enganar ninguém com as dificuldades que advirão da conquista da nossa soberania monetária e cambial, com as correspondentes saída do Euro e instituição do Escudo.

A desvalorização de cerca de 30% do Escudo, a que acima se fez referência, acarretará uma desvalorização salarial da ordem dos 15%. Mas cumpre ter presente duas coisas: em primeiro lugar, haverá sempre possibilidade de compensar essa desvalorização com as correcções automáticas dos montantes do salário mínimo nacional e na negociação colectiva; e, por outro lado, que os trabalhadores têm uma experiência própria da correcção das desvalorizações salariais por efeito das desvalorizações cambiais, como sucedeu nos anos de 1977 e 1983, sob governos de Mário Soares, quando viveram com desvalorizações sucessivas do escudo e souberam sempre recompor o nível médio anual dos seus salários.

De qualquer modo, saídos do Euro e entrados no novo Escudo, a desvalorização inicial é temporária, enquanto que permanecendo na política de desvalorização interna actualmente em vigor e imposta pela Tróica, a redução do valor do salário e da força de trabalho permanecerá por tempo indeterminado, como estamos a ver agora diante dos nossos próprios olhos, em que a saída de Tróica, prevista para Maio deste ano, vem acompanhada de medidas perpétuas de desvalorização continuada dos custos do trabalho.

O regresso à soberania orçamental, monetária e cambial, em contrapartida, terá efeitos quase imediatos na eliminação do défice externo, levando a um súbito incremento da produção e venda de bens transaccionáveis e ao aumento da produção de bens internos, substitutivos dos bens antes importados.

Esta política permitirá a Portugal crescer mais rapidamente que a média dos países da zona do Euro, recuperando o seu desenvolvimento económico e o bem-estar do seu Povo.
Em termos orçamentais, rejeitado que seja o respectivo tratado em simultâneo com a saída do Euro com a introdução da moeda própria – o Escudo –, teremos outra política quanto ao défice orçamental, défice que é virtuoso na condição de o montante do défice corresponder sempre a despesas de investimento.

A Islândia, vai para cinco anos, adoptou um sistema semelhante ao que aqui se adianta, com uma desvalorização dramática de 50% da sua moeda em vinte e quatro horas, e conseguiu manter a inflação abaixo dos 12% no primeiro ano e dos 4% no segundo ano, normalizando essa situação em cerca de três anos .

Não devemos terminar sem lembrar que vivemos hoje, em Portugal, sob o império de uma contra-revolução política e económica, onde, com o pretexto da dívida e a alegação de se viver acima das nossas possibilidades, o governo de traição nacional Coelho/Portas, com o patrocínio do presidente da República, estão a impor aos portugueses uma ditadura do tipo fascista em avançado estado de implantação.

A saída do Euro e a criação do Escudo são meios económicos, mas também políticos, para fazer reingressar Portugal no regime democrático saído da revolução de Abril.

As próximas eleições europeias de 25 de Maio deverão servir para que o povo português, na iminência de uma vitória da direita e da extrema-direita em toda a União Europeia, marque desde já a sua posição de luta determinada pela democracia e pela independência nacional.

 


Espártaco

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