Quando no ano passado François Hollande se apresentou ao povo francês como alternativa ao saltapocinhas Sarkozy, logo um coro de apoio se levantou por toda essa Europa fora e Portugal providenciou alguns notórios barítonos! Uns, já conhecidos de outras previsões e de outras certezas, outros recentemente chegados a esta função de desviar os trabalhadores e o povo da sua tarefa que é a de derrubar este governo, constituir um governo democrático patriótico e, no mínimo, impôr a suspensão do pagamento da dívida e do serviço da dita (juros).
Afinados, consciente ou inconscientemente, pela estratégia do “maestro” Seguro, foi deveras revelador o facto de, para além do Bloco de Esquerda – que procura a todo o transe formar a “grande esquerda” – e do PCP de Jerónimo, verificar que até alguns “proeminentes” anarquistas, libertários e trotskistas da IV Internacional, isto é, toda uma liderança oportunista de “não líderes” (pois estes são aqueles que dizem que “ninguém os representa”), aplaudiram o candidato, o vislumbre da sua eleição e, mais ainda, anunciaram eufóricamente a sua vitória, criando a falsa expectativa de que, com Hollande, finalmente a chancelerina Merkel, a nova fuhrer, teria um “opositor” à sua altura.
A propósito destas expectativas enganosas não será demais propor-vos que releiam a nota que, a propósito do tema, então publicámos: “Eleições presidenciais em França – nada de ilusões!”.
Não foi necessário esperarmos muito para verificar que François Hollande, apesar de ter propositadamente criado essa expectativa, não só não iria romper com o modelo liderado por Merkel, como anunciavam os deslumbrados socialistas de pacotilha, como iria, isso sim, aplicar as medidas terroristas e fascistas que a nova fuhrer está a ditar e, como o havíamos igualmente previsto, dar corpo à substituição do refrão Merkozy pela nova cantilena Merkhollande!
E aí está o Pacto para a Competitividade, preconizado pelo comissário geral para o investimento francês, Louis Gallois, para o confirmar. Desde o abandono da “taxa para os ricos”, uma das principais bandeiras eleitorais de Hollande que encantou tantos intelectuais nescios e diletantes em Portugal e por esse mundo fora, até ao aumento do IVA sobre produtos básicos como o gás, a luz, os transportes, os medicamentos, etc. Eis as receitas do FMI e da tróica germano-imperialista a serem aplicadas sem apelo nem agravo na França “liberada” de Sarkozy! Uma França que, ao reanimar da euforia das promessas eleitorais, acorda agora para se confrontar com a realidade de que, de facto, apenas substituiu um algoz dos trabalhadores e do povo…por outro!
Uma França que desperta, agora, para a realidade de que apenas mudou de caceteiro e que nem no cacete, nem na intensidade da cacetada, existem diferenças entre eles!
Enquanto em Portugal, na Grécia e noutros países intervencionados – e ocupados – pela tróica germano-imperialista, os sucessivos ciclos de austeridade/recessão têm sido assegurados pelo roubo directo do trabalho e dos salários e pela facilitação dos despedimentos e aumento da carga fiscal – dos impostos directos e indirectos, sobretudo dos impostos sobre o trabalho -, em França,o aumento do IVA e outras medidad propostas no supracitado Pacto para a Competitividade podem vir a representar, em média, uma redução de cerca de 25% do salário mínimo.
Se é certo que, como marxistas-leninistas, somos internacionalistas, solidários com a luta dos operários e trabalhadores de França e de outros países, não menos certo é que o melhor contributo que os trabalhadores e o povo português podem dar aos outros povos é aprofundar a sua luta, a sua organização e a sua combatividade em torno do objectivo de derrubar este governo de traição PSD/CDS e da constituição de um governo democrático patriótico, cujas primeiras medidas sejam a de suspender imediatamente o pagamento de uma dívida que não foi contraida pelo povo, nem o povo dela retirou qualquer benefício.
Este é o sinal de que os povos necessitam para confiarem nas suas próprias forças e verificarem que, afinal, não existe nenhuma medida terrorista e fascista, nenhum governo capitulacionista, nenhuma ocupação imperialista e colonial que resista à vontade de um povo se libertar do jugo a que o querem submeter.