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Ensaio

A Luta Solidária e Urgente pelo Controlo Popular dos Recursos Mineiros

(…) Anda um ror de gente a escarrar negro.
O tufo condensa-se nas máscaras, corrói os pulmões,
é impossível respirar com essa mordaça
a sorver o que resta de ar puro.

Fernando NAMORA, Minas de San Francisco (1946)

Decorridas algumas décadas sobre a primeira edição do emblemático romance citado em epígrafe, que nos remete para a obra-prima de Emile ZOLA, o Germinal (1885), e num contexto de agravamento da luta de classes na sequência do choque dialéctico entre o Trabalho e o Capital, temos de reconhecer que as propaladas “conquistas de Abril” são apenas aparentes e lembram, em cada dia que passa, os anos sombrios da ditadura fascista (salazarismo e marcelismo), quando muitos elementos do proletariado rural eram vítimas de numerosos e trágicos acidentes de trabalho e da funesta silicose [cf., entre outras fontes, Fernando PAULOURO e Daniel REIS, A Guerra da Mina e os Mineiros da Panasqueira, ed. A Regra do Jogo, 1979, e João AVELÃS NUNES, Volfrâmio e Poderes Locais em Portugal (1931-1947),in Revista de História Económica e Social, n.º 4 (2.ª série), 2.º semestre de 2002].

Como ex-Mineiro (“praticante de sondador”), que há muitos anos desceu às galerias e aos chamados escombros do complexo da Panasqueira e, em colaboração com um activo dirigente sindical e amigo, João DUARTE, não hesitou em dar um modesto contributo, num artigo sob o título Em defesa do Zêzere, publicado no Jornal do Fundão de 26 de Setembro de 1981, denunciando o estado de contaminação das águas na envolvente do Couto Mineiro e nas áreas limítrofes, bem como as potenciais consequências associadas à poluição, quero, acima de tudo, estar ao lado da luta dos trabalhadores do sector extractivo e, em particular, dos Mineiros explorados por uma multinacional que apenas conhece os “valores” das riquezas nacionais e paga um montante ridículo de impostos. Trata-se de um combate humilde, quase “simbólico” mas, contudo, em consonância com as justíssimas posições do Partido, bem patentes, por exemplo, na memorável deslocação do Camarada ARNALDO MATOS ao coração das Minas, em 1980, nas sucessivas referências solidárias aos conflitos laborais (a título elucidativo, vale a pena reler o texto inserto no Luta Popular online em 27 de Abril de 2014) e na recente visita, cujo significado ultrapassa de longe a dimensão da campanha eleitoral, do dinâmico 1.º candidato pelo Círculo de Castelo Branco DAVID FALCÃO e do Camarada GARCIA PEREIRA.

De facto, não podemos dissociar a inadiável preservação da memória mineira e do património industrial do nosso País do próprio legado do Partido e do seu programa essencial, obviamente adaptado ao sistema capitalista do século XXI, uma correcta atitude política que, para além de tudo o mais, pressupõe a consciência da urgente criação de uma estrutura nacional de Minas, à luz da concepção marxista que conduz à “guerra” pelo controlo colectivo dos recursos minerais e energéticos enquanto bens comuns (cada vez mais raros!), reservas que as grandes companhias delapidam com escandalosa impunidade. É tempo de regressar ao profundo impacto dos documentos fundamentais do PCTP/MRPP, mais precisamente, ao importante Informe sobre A Situação Política Actual e as Nossas Tarefas (ed. Bandeira Vermelha), apresentado pelo Camarada ARNALDO MATOS à histórica Conferência de Jales, em Setembro de 1975.

No seguimento da evocação de Fernando NAMORA, injustamente esquecido por alguns “críticos”, vendedores de medíocres literatos que ocupam o campo dos media, recordo as palavras ponderadas do autor d’O Homem Disfarçado (1957), as quais devem constituir tema de reflexão: “Todo o homem verdadeiro traz da juventude uma direcção. Depois, só lhe resta ter vergonha e manter-se-lhe fiel; ou, então, apodrecer.” Neste aspecto, impõe-se a necessidade de liquidar (no plano político-partidário, como é óbvio!) os múltiplos traidores e lacaios da “troika” que, no fundo, são desprezados como os maiores vilões!
 

FERNANDO EUSÉBIO FIRMINO
(Elemento da Candidatura pelo Círculo de Setúbal)


01.10.2015




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